sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Memórias

"Havia também os que se apresentavam sozinhos, braços de fome, a oferecerem a nádega à seringa a troco de uma cama onde dormir, clientes habituais que o porteiro reenviava, de imperioso braço estendido à estátua de Marechal Saldanha, para as árvores do Campo de Santana que o escuro confundia numa névoa de corpos abraçados. Aqui, pensou o médico, desagua a última miséria, a solidão absoluta, o que nós próprios não aguentamos suportar, os mais escondidos e vergonhosos dos nossos sentimentos, o que nos outros chamamos de loucura que é afinal a nossa e da qual nos protegemos a etiquetá-la, a comprimi-la de grades, a alimentá-la de pastilhas e de gotas para que continue existindo, a conceder-lhe licença de saída ao fim de semana e a encaminhá-la na direção de uma «normalidade» que provavelmente consiste apenas no empalhar em vida."

Texto: Excerto de "Memórias de Elefante" de António Lobo Antunes
Imagem: Fotograma de "Requiem for a Dream" de Darren Aronofsky

segunda-feira, agosto 15, 2011

1001 Fimes Para Ver Antes De Morrer (II)

FILME #2

THE GREAT TRAIN ROBBERY
Realização: Edwin S. Porter
Intérpretes: A. C. Abbadie, Gilbert M. "Broncho Billy" Anderson, George Barnes, Walter Cameron, Justus D. Barnes
Produção: Edison Manufacturing Company
Origem: EUA, 1903



(faltam 999 filmes)

quarta-feira, abril 27, 2011

Óleo Sobre Tela (XXXIII)

Edvard Munch - "Primavera" (1889)


"Pintei os traços e as cores que afectaram o meu olhar interior. Pintei de memória sem nada acrescentar, sem os pormenores que já não via à minha frente. É esta a razão da simplicidade das minhas telas, do seu óbvio vazio. Pintei as impressões da minha infância, as cores esbatidas de um dia esquecido".

domingo, abril 24, 2011

1001 Filmes Para Ver Antes De Morrer (I)

FILME #1:

LE VOYAGE DANS LA LUNE

Realização: Georges Méliès
Intérpretes: Victor André, Bleuette Bernon, Brunnet, Jeanne d'Alcy, Henri Dellanoy
Produção: Star Film
Origem: França, 1902




(faltam apenas mais 1000 filmes)

segunda-feira, abril 11, 2011

The Criterion Collection (#148)











Título: Ballada O Soldate (A Balada do Soldado)
Realização: Grigory Chukhrai
Intérpretes: Vladimir Ivashov, Zhanna Prokhorenko, Antonina Maximova, Nikolai Kriunchkov, Vevgeny Urbansky.
Origem: URSS, 1959
Coleção Criterion #148

quinta-feira, março 24, 2011

A Knee Play


The day with its cares and perplexities is ended and the night is now upon us.
The night should be a time of peace and tranquility, a time to relax and be calm.
We have need of a soothing story to banish the disturbing thoughts of the day,
to set at rest our troubled minds, and put at ease our ruffled spirits.

And what sort of story shall we hear ?
Ah, it will be a familiar story, a story that is so very, very old,
and yet it is so new. It is the old, old story of love.

Two lovers sat on a park bench with their bodies
touching each other, holding hands in the moonlight.

There was silence between them.
So profound was their love for each other,
they needed no words to express it.
And so they sat in silence, on a park bench,
with their bodies touching,
holding hands in the moonlight.


Finally she spoke.
"Do you love me, John ?" she asked.
"You know I love you, darling." he replied.
"I love you more than tongue can tell.
You are the light of my life.
My sun. Moon and stars.
You are my everything.
Without you I have no reason for being."

Again there was silence as the two lovers sat on a park bench,
their bodies touching, holding hands in the moonlight.
Once more she spoke. "How much do you love me, John ?" she asked.
He answered : "How much do I love you ? Count the stars in the sky.
Measure the waters of the oceans with a teaspoon.
Number the grains of sand on the sea shore. Impossible, you say."

"Yes and it is just as impossible for me to say how much I love you."

"My love for you is higher than the heavens, deeper than Hades,
and broader than the earth. It has no limits, no bounds.
Everything must have an ending except my love for you."

There was more of silence as the two lovers sat
on a park bench with their bodies touching, holding hands in the moonlight.

Once more her voice was heard.
"Kiss me, John" she implored.
And leaning over, he pressed his lips
warmly to hers in fervent osculation...

Letra: "Knee Play 5" de "Einstein on the Beach" de Philip Glass e Robert Wilson
Música: Philip Glass

sábado, março 12, 2011

Foto À Minura - VIII

"Billy Mann" de Larry Clark
(1963)

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Óleo Sobre Tela (XXXIV)

"Não tenho medo de fazer alterações,
destruir a imagem, etc.,
porque a pintura tem vida própria". - Jackson Pollock

Imagem: "Painting One: Nr. 31 (Lavender Mist)" de Jackson Pollock

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Under The Sea Of Fog


"Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.

Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.

Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.

Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior."


Poema: "O Homem que Contempla" de Maria Rilke
Pintura: Wanderer Above the Sea of Fog de Caspar David Friedrich

terça-feira, outubro 05, 2010

Óleo Sobre Tela - XXXIII

Christian Krogh - "A Rapariga Doente" (1880/81)

"A arte está acabada, uma vez que o artista tenha dito verdadeiramente tudo o que lhe estava no seu coração..."

domingo, setembro 26, 2010

Inside The Dream

"Inside The Dream Syndicate Volume 1: Day of Niagara" é uma peça musical rara. No dia 25 de Abril de 1965 (época em que o minimalismo gozava de grande prestígio), cinco compositores e músicos reuniram-se e gravaram esta composição de 30 minutos, com John Cale na viola, Tony Conrad no violino, Angus MacLise na percussão, La Monte Young no saxofone e Marian Zazeela na voz. Porém, esta peça é rara pois, desde a sua gravação, que os compositores encontram-se em disputa em relação aos direitos de autor.
La Monte Young não autoriza a gravação a não ser que ele seja creditado como o único compositor de "Inside the Dream Syndicate Volume 1: Day of Niagara". Marian Zaseela (sua esposa) encontra-se do seu lado. Já John Cale e Tony Conrad afirmam que a obra foi um trabalho de equipa. Angus MacLise já faleceu e por isso não pode tecer comentários.
No ano 2000 a gravação chegou ao público através de um disco com uma versão remasterizada. Porém, teve uma tiragem muito limitada e depressa desapareceu das prateleiras das lojas de especialidade. Agora (se forem amantes do minimalismo como eu), aguardemos por uma nova reedição...

domingo, agosto 22, 2010

Memórias De Um Sonhador

"E outra vez me pergunto: o que fizeste com esses anos? Onde sepultaste os teus melhores anos? Viveste ou não viveste? Olha, digo para mim, olha que frio se põe no mundo. Mais anos passarão e atrás deles virá a solidão sombria, virá com o seu cajado, a velhice tremente, e com isso a mágoa e a amargura. Tornar-se-á pálido o teu mundo fantástico, vão esmorecer os teus sonhos, murchar, cair como folhas amarelas das árvores... Que triste ficar sozinho, completamente sozinho, sem ter sequer o que lamentar - nada, absolutamente nada... porque todo o perdido era nada, um zero estúpido, nada mais que uma ilusão!"

Texto: Excerto de "Noites Brancas" de Fiódor Dostoiévski
Imagem: Fotograma de "Le Notti Bianche" de Luchino Visconti

domingo, agosto 15, 2010

Óleo Sobre Tela (XXXII)

Albert Marquet - Praia em Fécamp (1906)
.
Uma obra fauvista para a comemoração do verão...

segunda-feira, julho 26, 2010

A Obra "Guernica"... Como Nunca A Viu

A tela (782 X 351 cms), a preto e branco, representa o bombardeamento sofrido pela cidade espanhola de Guernica a 26 de Abril de 1937 por aviões alemães e está actualmente exposta no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.
O pintor, que morava em Paris na altura, soube do massacre pelos jornais e pintou as pessoas, animais e edifícios destruídos pela força aérea nazi tal como os viu na sua imaginação.
Agora, uma artista nova-iorquina, Lena Gieseke, que domina as mais modernas técnicas de infografia digital, decidiu propor uma versão 3D da célebre obra e colocá-la na internet sob a forma de um vídeo.
O resultado é fascinante e permite-nos visualizar detalhes que de outra forma nos passariam despercebidos. Esta técnica inovadora revela-se um instrumento poderoso para compreender melhor a forma de trabalhar do pintor e até o modo como funcionava a sua imaginação.
Em conclusão: podemos ver a obra "Guernica" como nunca antes a vimos.

sábado, junho 26, 2010

domingo, junho 20, 2010

Argumento Adaptado: Carrie

"Devia ter-me matado quando ele a pôs em mim - disse, claramente. - Depois da primeira vez, antes de casarmos, jurou: nunca mais. Disse que fora apenas... um descuido. Acreditei. Caí, perdi o bebé e esse foi o juízo de Deus. Pensei que o pecado tinha sido expiado. Pelo sangue. Mas o pecado nunca morre. O pecado... nunca... morre. - Os seus olhos cintilavam. - Ao príncipio correu tudo bem. Vivemos sem pecado. Dormíamos na mesma cama, às vezes ventre com ventre, e, oh, eu sentia a presença da Serpente, mas... nunca... o fizémos... até... - Começou a sorrir cruelmente, terrivelmente. - E nessa noite vi-o a olhar-me daquele modo. Ajoelhámos a pedir forças e ele tocou-me... Naquele sítio. Naquele sítio da mulher. Mandei-o sair de casa. Esteve horas fora e eu rezei por ele. Vi-o mentalmente, a percorrer as ruas da meia-noite e a lutar com o Demónio como Jacob lutou com o Anjo do Senhor. E quando regressou o meu coração encheu-se de gratidão. Só quando ele entrou é que cheirei o uísque no seu hálito. E tomou-me. Tomou-me. Tomou-me ainda com o fedor do uísque da imunda estalagem no hálito, tomou-me... e eu gostei! - Gritou as últimas palavras, como se as atirasse ao tecto. - Gostei de toda aquela fornicação e das suas mãos nojentas em mim, EM TODA EU!"



O livro: "Carrie" de Stephen King
O filme: "Carrie" de Brian de Palma

sexta-feira, junho 18, 2010

Adeus, José Saramago

José Saramago
(1922 - 2010)

sexta-feira, maio 28, 2010

Óleo Sobre Tela (XXXI)

Marcel Duchamp - Nu Descendo as Escadas
(1912)

sexta-feira, maio 07, 2010

In Modeling...

"Hanging Children" de Maurizio Cattelan
(2004)

Uma representação realística de três crianças enforcadas na árvore mais antiga da cidade, com os seus olhos bem abertos... observando a realidade.

quinta-feira, abril 01, 2010

Páginas Soltas

"Janeiro de 1995, quinta-feira. Em roupão e de cigarro apagado nos dedos, sentei-me à mesa do pequeno-almoço onde já estava a minha mulher com a Sylvie e o António que tinham chegado na véspera a Portugal. Acho que dei os bons-dias e que, embora calmo, trazia uma palidez de cera. Foi numa manhã cinzenta que nunca mais esquecerei, as pessoas a falarem não sei de quê e eu a correr a sala com o olhar, o chão, as paredes, o enorme plátano por trás da varanda. Parei na chávena de chá e fiquei. «Sinto-me mal, nunca me senti assim», murmurei numa fria tranquilidade.
Silêncio brusco. Eu e a chávena debaixo dos meus olhos. De repente viro-me para a minha mulher: «Como é que tu te chamas?»
Pausa. «Eu? Edite.» Nova pausa. «E tu?»
«Parece que é Cardoso Pires», respondi então."

Texto: Excerto de "De Profundis, Valsa Lenta" de José Cardoso Pires
Imagem: "Auto-retrato" de Egon Schiele

segunda-feira, março 15, 2010

Óleo Sobre Tela (XXX)

André Derain - Rapazes na Praia
(entre 1906 - 1909)

segunda-feira, março 08, 2010

Apontamento Cultural

Está patente na Cinemateca Portuguesa o ciclo João César Monteiro: Assim e Não Assado. Este ciclo exibe as obras "Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço" (hoje, dia 8), "Recordações da Casa Amarela" (dia 9), "A Comédia de Deus" (dia 10), "Branca de Neve" (dia 11) e "Vai e Vem" (dia 12). As sessões são sempre às 22.00h . Por 2.50€... vale mesmo a pena (re)ver estas obras de um dos mais consagrados realizadores portugueses.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Óleo Sobre Tela (XXIX)

Oskar Kokoshkcha - Praga Nostálgica (1938)

sábado, fevereiro 20, 2010

De 1791 Para 2006

Dificilmente existe alguém que nunca tenho ouvido falar de "A Flauta Mágica" ("Die Zauberflöte", no original) de Wolfgang Amadeus Mozart. Porém, em 2006, durante as comemorações dos 250 anos do nascimento de Mozart, Martin Kusej resolveu provar que esta obra se mantém actual. A acção decorre num ambiente futurista numa triste e cinzenta cidade, com personagens com óculos de sol e roupas muito modernas, onde a Rainha da Noite seduz Tamino, personagens movem-se pelo palco em roupa interior... nada parece impossível nesta produção. Com um elenco muito jovem de onde se destacam nomes de Rubem Drole (Papageno), Elena Mosuc (para mim a melhor Rainha da Noite de sempre), Christoph Strehl (Tamino) e Julia Kleiter (Pamina), esta produção causou espanto, alguma controvérsia e claro, muito sucesso. Felizmente esta produção foi gravada e encontra-se à venda em DVD editado pela "Deutsche Grammophon". Aqui fica o vídeo com a Ária Nr.14 "Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen" onde a Rainha da Noite ordena que Pamina, sua filha, assassine Sarastro. O fim... é hilariante!

Video: Deutsche Grammophon

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Adeus, Rosa

Rosa Lobato Faria
1932 - 2010

sábado, janeiro 16, 2010

Páginas Soltas

"Vi-o aqui no cemitério, avançava entre os túmulos, espectro entre os espectros. Encontrei-o, e súbito me apercebi que não tinha diante de mim um vivo, o seu rosto era o de um cadáver, os seus olhos olhavam já para as penas eternas. Naturalmente, só na manhã seguinte, sabendo da sua morte, eu compreendi que tinha encontrado o seu fantasma, mas já naquele momento me dei conta que estava a ter uma visão e que diante de mim estava uma alma danada, um lémure... Oh, Senhor, com que voz de túmulo me falou! «Estou condenado!», assim me disse. «Tal como me vês, tens diante de ti um retornado do inferno»."

Texto: Excerto de "O Nome da Rosa" de Umberto Eco

sábado, janeiro 02, 2010

Títulos Da Minha Videoteca Privada (XIV)

Título: Duas
Realização: Werner Schroeter
Ano: Portugal, França, Alemanha, 2002
Intérpretes: Isabelle Huppert, Bulle Ogier, Manuel Blanc
Edição em DVD: Atalanta Filmes (cópia nr. 657)

sexta-feira, janeiro 01, 2010

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Feliz Natal

Feliz Natal
(de preferência sem "nightmares")

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Óleo Sobre Tela (XXVIII)

Arnold Bocklin - "A Ilha dos Mortos" (1883)

sábado, dezembro 19, 2009

Páginas Soltas

"O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios ao burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o local que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia da viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes.»

Imagem:"Abraão e Isaac" de Rembrandt van Rijn
Texto: Excerto de "Cain" de José Saramago

domingo, novembro 15, 2009

Nocturno(s)

Nocturno 1:



Nocturno 2:





Imagem: "Nocturno" de Amelia Pelaez
Vídeo: "Nocturne No.1 em Si bémol menor, op. 9 no.1"
de Fréderic Chopin (interpretado por Maria João Pires)

O 4º Aniversário

Não posso dizer que esperava ver este blogue fazer quatro anos...
Nunca pensei que tinha tanto para dizer.
Conheci pessoas. Perdi pessoas.
Conheci outros pontos de vista com os quais aprendi.
Enfim, venham mais quatro anos...

quarta-feira, outubro 28, 2009

Do You Dance?

Philip Glass Dance IX de "In The Upper Room"

Este é um pequeno excerto do ballet cuja música foi composta por Philip Glass. Procurei tentar saber qual é o corpo de ballet que dança neste vídeo mas as minhas persquisas foram infrutíferas. Aqui ficam os créditos aos bailarinos.
Quem desejar ouvir esta obra de Philip Glass, poderá escolher entre dois álbuns. No primeiro, o Dancepieces, a obra encontra-se incompleta, onde se pode ouvir apenas as danças número I, II, V, VIII e IX em conjunto com as composições "Rubrics", "Facades" e "Funeral" da ópera Akhnaten.
No segundo álbum a obra encontra-se completa, mas sem os sintetizadores(!). A editora do álbum (a Orange, ou seja, a editora que mais divulga a obra de Philip Glass), justificou esta «ligeira modificação», com o facto de dar à obra uma música mais ensemble, ou seja, «apropriada»(?) para uma obra dançante.

Para quando um disco com a obra completa e exactamente como foi escrita pelo seu autor? Aguardemos...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Foto À Minuta (VII)

"Got a Salmon on (Prawn)" de Sarah Lucas
(1994)

domingo, setembro 20, 2009

A Casa Das Histórias de Paula Rego

A Casa das Histórias de Paula Rego, situada em Cascais, foi inaugurada ao público no passado dia 18, com uma exposição temporária de obras-primas da pintora portuguesa, radicada em Londres.
A Casa das Histórias Paula Rego, que apresentará duas exposições temporárias por ano - a inaugurar na Primavera e no Outono - abre com uma dedicada a trabalhos da artista, criados entre 1987 e 2008. Esta primeira mostra inclui "obras icónicas" como a primeira obra, intitulada "Life Painting" (1954), criada enquanto estudante da Slade School of Fine Art, em Londres, até às mais recentes como "A Filha do Polícia", quadros da série "Avestruzes Bailarinas", e a célebre "Mulher Cão" (1994), primeira obra a pastel realizada por Paula Rego.
Globalmente, a colecção do novo museu conta com a totalidade da obra gráfica da artista, num total de 257 exemplares, com várias centenas de desenhos, algumas dezenas de pinturas emprestados pela artista por uma década, também de Victor Willing, seu marido já falecido, e ainda a tapeçaria com o tema "Batalha de Alcácer-Quibir", adquirida pelo município de Cascais.
Após vários anos de espera, aí está uma casa-museu onde nos poderemos deliciar com as histórias que a mais internacional pintora portuguesa, tem para nos contar.

Texto: Baseado na notícia da Lusa.
Vídeo: Sic Online.

sábado, setembro 12, 2009

Páginas Soltas


"Primeiro as cores.
Depois os humanos.
É geralmente assim que eu vejo as coisas.
Ou, pelo menos, tento.

EIS UM PEQUENO FACTO
Vocês vão morrer.

Para falar francamente, estou a tentar mostrar-me prazenteira acerca deste tópico, embora a maioria das pessoas sinta dificuldade em me acreditar, por muito que eu proteste. Por favor, confiem em mim. Eu posso definitivamente ser presenteira. Posso ser amável. Agradável. Afável. E isso só nos A's. Só não me peçam para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.

REACÇÃO AO FACTO ACIMA MENCIONADO
Isto preocupa-os?
Peço-lhes - não tenham medo.
Sou seguramente justa.

É claro, uma apresentação.
Um começo.
Que é feito das minhas boas maneiras?
Podia apresentar-me devidamente, mas não é de facto necessário. Vocês conhecer-me-ão suficientemente bem e suficientemente depressa, dependendo de um amplo leque de variáveis. Basta dizer determinado ponto do tempo, me encontrarão debruçada sobre vós, tão jovial quanto possível. A vossa alma estará nos meus braços. No meu ombro pousará uma cor. Levar-vos-ei docemente comigo."


Excerto de "A Rapariga que Roubava Livros de Markus Zusak
Imagem: Alfred Rethel

quarta-feira, setembro 09, 2009

Óleo Sobre Tela (XXVII)

Max Ernst
"A Virgem Maria Castigando o Menino Jesus Defronte de Três Testemunhas"
(1926)

quarta-feira, agosto 12, 2009

Títulos Da Minha Videoteca Privada (XIII)

Título: Buda Caiu de Vergonha ("Buda as Sharm Foru Rikht")
Realização: Hana Makhmalbaf
Ano: Afeganistão, 2007
Edição em DVD: Zon Lusomundo (cópia nr. 162)

Um filme realizado pela filha do realizador Mohsen Makhmalbaf
aos 19 anos de idade.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Agosto


"Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco."


Poema: "Soneto de Agosto" de Vinicius de Moraes
Imagem: "Les Amants" de René Magritte

quarta-feira, julho 29, 2009

MiNiMaL aRt (XI)

Joana Vasconcelos - "Dorothy" (2007)

"No caso do sapato Dorothy, que é, afinal, uma sandália de santo alto, o meu objectivo era chamar a atenção para a dualidade da vida actual das mulheres, da incompatibilidade entre os afazeres domésticos e a vida social activa." - Joana Vasconcelos

quinta-feira, julho 23, 2009

Óleo Sobre Tela (XXVI)

Paula Rego - " The Unicorn Artist" (2009)

Não se trata de um óleo nem de uma tela, mas sim uma litografia assinada
pela mais internacional pintora portuguesa; Paula Rego.

Segue-se o vídeo sobre a elaboração de parte desta obra no Curwen Studio (entidade comissionaria desta obra para festejar o seu 50º aniversário).

domingo, julho 19, 2009

Leitura a 100%

É verdade! - nervoso - muito... eu andava e ando terrivelmente nervoso. Mas porque dirás tu que estou louco? A doença apurou os meus sentidos, não os destruiu, não os entorpeceu. O mais apurado de todos os sentidos foi a audição. Eu ouvi todas as coisas existentes no céu e na terra. Eu ouvi muitas coisas no inferno. Como, então, posso eu estar louco? Escuta! E observa com que sobriedade, com que calma eu te posso contar a história toda.
É impossível dizer como a ideia surgiu no meu cérebro, mas uma vez concebida, assombrou-me dia e noite. Sem nenhuma objecção. Sem nenhuma paixão. Eu adorava o velho. Ele nunca me tinha enganado. Ele nunca me tinha insultado. Eu não cobiçava o ouro dele. Eu penso que era o olho dele! Sim, era isso! Ele tinha o olho de um abutre, um pálido olho azul com uma película por cima. Sempre que o olhar dele caía sobre mim o meu sangue gelava, e gradualmente - muito gradualmente - Eu decidi-me a tirar a vida ao velho e assim livrar-me do olho para sempre.
Agora este é o ponto. Imaginas-me louco. Os loucos nada sabem. Mas tu devias ter-me visto. Devias ter visto como procedi sabiamente, com que cautela, com que providência, com que dissimulação eu me pus ao trabalho! Eu nunca fui mais simpático para o velho do que durante toda a semana antes de o matar. E todas as noites, por volta da meia-noite, eu rodei a maçaneta da sua porta e abri-a - oh, com que suavidade! E depois, quando eu fiz uma abertura suficiente para a minha cabeça, eu introduzi uma lanterna com a luz oculta, completamente fechada, tapada, de tal forma que nenhuma luz saía para fora. Depois eu enfiei a cabeça. Oh, rir-te-ias de ver o quão astuciosamente introduzi a cabeça! Eu movi-a vagarosamente, muito, muito vagarosamente, para que não perturbasse o sono do velho. Levei uma hora a colocar a cabeça na frincha por forma a vê-lo deitado na cama. Hah! Teria um louco esta sagacidade? Depois, quando a cabeça estava já dentro do quarto, eu destapei a lanterna cautelosamente - oh, tão cautelosamente - cautelosamente (pois as roldanas da tampa rangiam). Eu abri só uma nesga pequena, tão estreita que apenas saiu um único raio de luz que caiu sobre o olho do abutre. Isto eu fiz por sete longas noites, todas as noites à meia-noite. Mas em todas elas o olho estava cerrado, e como tal era impossível fazer o trabalho; pois não era o velho que me atormentava, mas sim o seu olho maléfico. Todas as manhãs quando o sol nasceu, eu entrei impertinentemente no quarto e falei corajosamente com ele, chamando-o de forma carinhosa pelo seu nome, e perguntando como havia passado a noite. Assim vês que ele teria que ser um velho muito sagaz, para suspeitar que todas as noites, precisamente à meia-noite, eu o vigiava enquanto ele dormia.
Na oitava noite eu tive mais cautela do que o costume ao abrir a porta. O ponteiro dos minutos de um relógio move-se mais rapidamente do que se moveu a minha mão, Nunca antes daquela noite eu havia sentido a extensão das minhas capacidades, da minha sagacidade. Eu mal podia conter o meu sentido de triunfo. Só de pensar que ali estava eu, a abrir a porta, pouco a pouco, e ele nem sequer sonhava com as minhas secretas intenções ou pensamentos. Eu dei verdadeiramente uma risada, e talvez ele me tenha ouvido, pois mexeu-se subitamente na cama, como que alarmado. Agora deves pensar que me retirei. Mas não. O quarto dele estava tão negro como um poço com a escuridão cerrada, (pois as persianas estavam completamente fechadas, por medo dos ladrões,) e portanto eu sabia que ele não podia ver a abertura da porta, e eu continuei a empurrá-la firmemente, firmemente.
Eu tinha a cabeça lá dentro, e estava quase a abrir a lanterna, quando o meu polegar escorregou na portinhola de latão, e o velho ergueu-se da cama, gritando - "Quem está aí?"
Eu manti-me sossegado e nada disse. Durante uma hora inteira eu não mexi um músculo, e ao longo desse tempo não o ouvi deitar-se de novo. Ele ainda estava sentado na cama a ouvir, tal como eu tinha feito, noite após noite, escutando o bater dos relógios na parede.
No momento ouvi um gemido, e soube que era o gemido do terror de morte. Não era o gemido de dor ou de angústia. Oh, não! Era o som abafado que se solta do fundo da alma quando sobrecarregada de temor. Eu conhecia bem o som. Muitas noites, justamente à meia-noite quando o mundo dormia, saiu de dentro do meu próprio peito, intensificando com o seu eco espantoso os terrores que me desorientavam. Eu conhecia-o bem. Eu sabia o que velho sentia, e tinha pena dele, apesar de o meu coração dar risadas. Eu sabia que ele estava acordado desde o primeiro ligeiro ruído, quando se virou na cama. Os seus medos vinham crescendo desde então. Ele estava a tentar imaginá-los casuais, mas não foi capaz. Ele dizia para si próprio - "Não é mais do que o vento na chaminé, é apenas um rato a atravessar o chão," ou "é apenas uma tábua que rangeu, sozinha." Sim, ele tentava confortar-se com estas suposições, mas percebeu que tudo tinha sido em vão. Tudo em vão, porque a morte, ao aproximar-se dele tinha colocado a sua sombra negra diante dele, e envolvido a vítima. Foi a influência funesta (melancólica) da sombra imperceptível que o fez sentir, ainda que não pudesse ver ou ouvir, a presença da minha cabeça dentro do quarto.
Quando eu já tinha esperado muito tempo, muito pacientemente, sem o ouvir deitar, resolvi abrir um pouco, uma pequena, muito pequena frincha da lanterna. Então abri, não podes imaginar com que subtileza, até que, ao comprido um simples raio de luz, da grossura da teia de aranha, disparou da frincha da lanterna e aterrou sobre o olho de abutre.
Estava aberto, muito, muito aberto, e fiquei furioso assim que o vislumbrei. Vi-o perfeitamente. Todo um azul pálido, com um véu hediondo por cima que arrepiou as extremidades dos meus ossos. Mas não conseguia ver mais nenhuma parte do corpo do velho, pois eu tinha dirigido o raio de luz como que por instinto, precisamente para o ponto maldito.
E não te disse eu, que o que tomas por loucura não é mais do que o apuramento de sentidos? Agora, digo eu, veio aos meus ouvidos um som subtil, insípido, rápido, tal como faz um relógio quando envolvido em algodão. Eu conhecia bem esse som, também. Era a batida do coração do velho. Aumentou-me a fúria, como a batida de um tambor estimula o soldado e o encoraja.
Mas ainda aí eu me retive quieto. Eu mal respirava. Segurava a lanterna sem me mexer. Eu tentei, tão firmemente quanto pude, manter o raio de luz sobre o olho. Entretanto a infernal batida do coração aumentou. Tornou-se cada vez mais supremo! Tornou-se mais alta, digo eu, mais alta a cada instante! Entendes-me bem? Eu disse que estou nervoso: e estou. E agora no silêncio da noite, no silêncio perverso daquela casa velha, um som tão estranho como este excitou-me até ao ponto de me aterrorizar descontroladamente. No entanto, por mais uns minutos consegui reter-me quieto. Mas a batida tornou-se mais alta, mais alta! Eu pensei que o coração fosse rebentar. Agora uma nova preocupação apoderou-se de mim, o som seria ouvido por um vizinho! A hora do velho tinha chegado! Com um grito, eu abri a lanterna e saltei para dentro do quarto. Ele guinchou uma vez, só uma vez. Num instante eu arrastei-o para o chão e larguei a pesada cama em cima dele. Depois sorri alegremente, ao ver a tarefa cumprida. Mas, por muitos minutos, a batida do coração continuou com um som abafado. Isto, no entanto, não me incomodava, não seria ouvido para lá das paredes. Aos poucos cessou. O velho estava morto. Eu removi a cama e examinei o cadáver. Sim, ele estava que nem uma pedra, morto que nem uma pedra. Coloquei a minha mão sobre o coração e deixei-a lá por muitos minutos. Não havia pulsação. Estava morto que nem uma pedra. O olho dele não me perturbaria mais.
Se ainda me julgas louco, não me julgarás mais quando te descrever a sagacidade das precauções que eu tomei para ocultar o corpo. A noite desfalecia, e eu trabalhei apressadamente, mas em silêncio. Primeiro que tudo desmembrei o cadáver. Cortei a cabeça, e os braços e as pernas.
Depois retirei três tábuas do chão do quarto, e larguei tudo entre as fundações. Depois, eu voltei a colocar as tábuas tão inteligentemente, tão astuciosamente, que nenhum olho humano, nem mesmo o do velho, poderia detectar algo de errado. Não havia nada para limpar, nenhuma mancha de nenhum tipo, nem uma pinga de sangue. Eu tinha sido demasiado prudente para isso. Um tubo tinha resolvido tudo, ah! aha!
Quando eu tinha dado por terminado estes afazeres, eram quatro da manhã. Ainda tão escuro como à meia-noite. Aquando da batida da hora no relógio, vieram-me bater à porta da rua. Eu desci para abrir descontraidamente, pois o que tinha eu a temer? Entraram três homens, que se apresentaram, com perfeita suavidade, como inspectores da polícia. Um guincho tinha sido ouvido por um vizinho durante a noite, suspeições de coisas estranhas tinham sido levantadas, queixas tinham sido feitas na esquadra, e eles (inspectores) tinham sido destacados para averiguar as circunstâncias.
Eu sorri, pois o que tinha a temer? Dei-lhes as boas vindas. - O guincho - disse eu - fui eu próprio num sonho. O velho - mencionei - está ausente na província. Conduzi as minhas visitas pela casa toda. Permiti-lhes procurar, procurar bem. Finalmente, levei-os ao quarto dele. Mostrei-lhes os seus pertences, guardados, não haviam sido tocados. No entusiasmo da minha confiança, trouxe cadeiras para o quarto, e queria-os aqui para descansar das suas fadigas, enquanto eu próprio na audacidade do meu perfeito triunfo, coloquei a minha cadeira sobre o preciso lugar por trás do qual tinha largado o cadáver da vítima.
Os inspectores estavam satisfeitos. O meu comportamento tinha-os convencido. Era singularmente descontraído. Eles sentaram-se, e enquanto eu respondia alegremente, eles conversaram sobre banalidades. Mas demoraram-se. Eu senti-me a ficar pálido e desejei que partissem. A minha cabeça doía, e imaginei um zumbido nos meus ouvidos: mas eles ainda estavam sentados e ainda conversavam. O zumbido tornou-se mais claro, mas falei mais abertamente para me livrar do ruído, mas continuou e tornava-se mais definido. Até que, o fim de um tempo, eu percebi que o som não estava nos meus ouvidos.
Sem dúvida fiquei muito pálido, mas falei fluentemente, e em voz bem alta. No entanto o som aumentou - e o que podia eu fazer? Era um som abafado, insípido, rápido, bastante parecido com o som que um relógio faz quando envolvido em algodão. Eu recuperei o fôlego e no entanto os inspectores não o tinham ouvido. Eu falei mais rapidamente, mais veementemente, mas o som aumentava firmemente. Eu levantei-me e argumentei sobre futilidades, num tom agudo e gesticulando violentamente, mas o som aumentava firmemente. Porque não se iam embora? Eu desloquei-me no chão para trás e para a frente com passos fortes, como que enfurecido com as observações dos homens, mas o som aumentava firmemente. Oh Deus! Que podia eu fazer? Eu espumava. Enfureci-me, eu juro! Eu girei a cadeira na qual estava sentado, e bati-a contra as tábuas, mas o som erguia-se continuamente. Tornou-se cada vez mais alto, mais alto, mais alto! E os homens ainda conversavam agradavelmente, e sorriam. Seria possível que não estivessem a ouvir? Deus Todo-Poderoso! Não, não! Eles ouviam! Eles suspeitavam! Eles sabiam! Eles estavam a fazer troça do meu terrível medo. Assim eu pensei, e assim eu penso. Mas qualquer coisa era melhor do que esta agonia! Qualquer coisa era melhor do que esta zombaria! Eu já não podia suportar aqueles sorrisos hipócritas! Eu senti que ou gritava ou morria! E agora de novo! Escuta! Mais alto! Mais alto! Mais alto! Mais alto!
"Malvados!" eu guinchei, "Parem de disfarçar! Eu admito o que fiz! Levantem as tábuas! Aqui, aqui! É o bater do coração hediondo dele!"

Texto: "O Coração Delator" de Edgar Allan Poe
Imagens: Harry Clarke

segunda-feira, julho 13, 2009

Argumento Adaptado: As Horas

"O corpo do tordo ainda lá está (é curioso como os gatos e os cães da vizinhança não estão interessados), pequenino até mesmo para um pássaro, tão definitivamente sem vida, aqui no escuro, como uma luva perdida, este pequeno e vazio punhado de morte. Virginia pára junto dele. Agora é lixo; perdeu a beleza da tarde do mesmo modo que Virginia perdeu a sua admiração, à mesa do chá, por chávenas e casacos, do mesmo modo que o dia está a perder o seu calor. De manhã, com uma pá, Leonard recolhe pássaro, erva e rosas e deita tudo fora. Virginia pensa na muito maior quantidade de espaço que um ser ocupa na vida do que na morte, na muita ilusão de tamanho contida em gestos e movimentos, na respiração. Mortos, somos revelados nas nossas verdadeiras dimensões, que são surpreendentemente modestas. Não sentira ela, Virginia, em si mesma em espaço vazio, de uma pequenez espantosa, onde seria natural que um sentimento forte residisse?"



O livro: "As Horas" de Michael Cunningham
O filme: "As Horas" de Stephen Dalory

sábado, junho 27, 2009

Óleo Sobre Tela - XXV

Edvard Munch - A Criança Doente (1885/86)

"Estou convencido que dificilmente haverá um pintor entre eles que esgote o seu tema até, precisamente, à última gota amarga, tal como eu fiz em «A Criança Doente». Não era apenas eu próprio que estava lá sentado - eram todos os meus entes queridos".

terça-feira, junho 23, 2009

Filmes Que Provocam Fobias

Filme em questão: O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela (The Cook, The Thief, His Wife & Her Lover)
Ano: 1989
Fobia: Anglofobia possível e/ou Sitiofobia possível
Razão: Anglofobia: a maioria dos personagens são aterradores (principalmente o "thief"). Sitiofobia: Após os menús excelentes ao longo do filme, recebemos o choque do prato final apresentado no filme.

A reter: "No, it's not God, Albert. It's Michael. My lover. You vowed you would kill him, and you did. And you vowed you would eat him. Now eat him." (Georgina Spika)

PS: Um filme com a minha "british muse"... Helen Mirren!

segunda-feira, junho 15, 2009

MiNiMaL aRt (XI)


"Oh! Charlie, Charlie, Charlie" de Charles Ray
(1992)

quarta-feira, junho 10, 2009

Páginas Soltas

"Os velhotes já se tinham ido deitar. Giles dobrou o jornal e apagou a luz. Era a primeira vez durante todo o dia que os deixavam a sós, e ambos permaneceram em silêncio. Agora, sem a presença de mais ninguém, o ódio tornava-se visível; o mesmo se passava com o amor. Era necessário que brigassem antes de se deitar; depois da briga, haveria tempo para se abraçarem. Era provável que desse abraço nascesse outra vida. Mas primeiro tinham de lutar, como os cães de caça lutam com as raposas, no coração do negrume, nos campos da noite".


Texto: Excerto de "Entre os Actos" de Virginia Woolf
Imagem: Fotograma de "À ma Soeur" de Catherine Breillat

quinta-feira, maio 07, 2009

Óleo Sobre Tela (XXIV)

El Greco
"The Agony in the Garden"
(1595)