quinta-feira, agosto 31, 2006

È Prohibito in Nome del Padre, del Figlio e Dello Spirito Santo

Desde o início da sua brilhante carreira como cantora (numa idade muito precoce) que a mezzo-soprano Cecilia Bartoli se destacou pelo invulgar. O seu repertório de concerto abrange desde os primeiros compositores italianos até à música do início do século XX. Em álbuns anteriores resgatou árias de ópera até então esquecidas de Vivaldi, Gluck ou Salieri. No ano passado voltou a causar sensação com "Opera Proibita", com árias de várias óperas quando este género musical foi proibido pela Igreja Católica e quando foi vedado o direito de as mulheres cantarem em público. Como proibir é uma coisa e executar é outra, vários compositores continuaram a compôr árias e óperas inteiras e a ocultá-las. Cecilia Bartoli resolveu então gravar um álbum com algumas dessas árias. Neste extraordinário disco, encontramos trabalhos "prohibitos" de três compositores; George Handel (1685-1759), Alessandro Scarlatti (1660-1725) e Antonio Caldara (1670-1736). Porém, este disco é mais do que um simples álbum de Cecilia Bartoli... Destacam-se árias de Alessandro Scarlatti e Antonio Caldara até à data nunca antes gravadas. Eu, um fã absoluto desta admirável cantora e como sou um pecador (afinal, sou humano [mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!]), ainda a Fnac não tinha disposto o disco nas suas prateleiras já eu o por lá procurava...

segunda-feira, agosto 28, 2006

Filmes Que Causam Fobias - I

Filme em questão: A Mão que Embala o Berço (The Hand That Rocks the Cradle)
Ano: 1992
Fobia: Às amas (nome técnico desconhecido ou inexistente)
Gerador da Fobia: Peyton Flanders (Rebecca De Mornay)
Razão: Peyton Flanders tenta roubar o filho do casal Bartel eliminando, se necessário for, todos os opositores
Frase a Reter: "The hand that rocks the cradle is the hand that rules the world" (Marlene Craven)

sábado, agosto 26, 2006

O bebé Samuel gosta de Philip Glass

Como é possível não gostar de Philip Glass? Vejam o êxtase que o bebé Samuel sente ao ouvir "Pruit Igoe"...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Parabéns River Phoenix

Se River Phoenix fosse vivo completaria hoje 36 anos. Este actor e músico (protagonista de um dos "filmes da minha vida"), reconhecido pela crítica como possuidor dos olhos mais misteriosos da história do cinema, faleceu com apenas 23 anos.
River Phoenix, the flame of your memory still burning. Goodbye and see you around...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Virginia Woolf Said...

"Nunca se sentiu tão feliz como nesse momento! Sem trocar uma palavra, tinham feito as pazes. Caminharam na direcção do lago. Foram vinte minutos de perfeita felicidade. A voz dela, o seu riso, o seu vestido (algo de flutuante, vermelho e branco), o seu sentido de humor, de aventura; ela fez com que todos desembarcassem para explorar a ilha; espantou uma galinha, riu, cantou. E durante todo esse tempo, sabia-o ele perfeitamente, Richard Dalloway estava a apaixonar-se por ela, e ela por ele; mas isso parecia não ter importância. Nada tinha importância. Sentaram-se no chão a conversar - ele e Clarissa. Percorriam sem qualquer dificuldade, a mente um do outro. E depois, num segundo, tudo acabou. Disse para si próprio ao regressarem ao barco; «Ela vai casar com este homem»; sentia-se triste, mas sem ressentimento, era óbvio. Dalloway ia casar com Clarissa."
Texto: Excerto de "Mrs. Dalloway" de Virginia Woolf traduzido por José Miguel Silva
Imagem: Esboço de "Mrs. Dalloway" de Virginia Woolf que se encontra na British Library

terça-feira, agosto 15, 2006

La Beauté Russe

Wassily Kandinsky (1866-1944) foi um dos primeiros criadores do abstracto-puro na pintura moderna. Após as suas primeiras exposições com trabalhos "avant garde" ele dedicou-se inteiramente à pintura abstracta. O seu estilo inconfundível passou do fluído e orgânico para o geométrico e finalmente para o pictórico. Kandinsky era também músico e dizia que a cor era um teclado, os olhos a harmonia e a alma um piano. "O artista é a mão que toca numa tecla ou em outra de forma a causar vibrações na alma".
IMAGEM: "Gelb - Rot - Blau" (1925) em exposição no Musée National d'Art Moderne, Centro Georges Pompidou; Paris

domingo, agosto 13, 2006

A Metamorfose de um "Scary Movie"

Na Sexta-Feira tive a visita de um dos meus afilhados. À noite, impossibilitados de permanecermos no jardim à beira Tejo devido aos insectos que este ano parece terem resolvido ampliar a família de forma descomunal, fomos até a um centro comercial. Numa das quatro salas de cinema existentes no dito centro comercial um filme chamou a atenção do meu afilhado e de alguns filhos de alguns amigos; "Pular a Cerca". Resolvemos então aceder aos pedidos das criancinhas e fomos todos assistir ao filme. Enquanto eu comprava uma garrafa de água e fumava um cigarro, eu quase não conseguia acreditar que estava disposto a ir assistir a um filme de animação. Confesso; vi e gostei de "Belleville Rendez-Vous", mas filmes como "Shrek" (verdadeiros "scary movies" que vão ao ponto de utilizarem a flatulência como humor), é sinónimo de bocejos constantes e de buscas desesperadas a tentar verificar as horas dentro da sala escura do cinema.
Após as "previews" de alguns filmes que estavam nas outras salas ou que vão estrear brevemente, o filme começou. "Boring!", pensei. Porém, eis que, uns 10 minutos depois, o filme começou a captar a minha atenção. Para encurtar a história: eu ri mais que todas as crianças no cinema (pois elas eram cerca de 50% dos espectadores presentes). A história lida nas entrelinhas é delirante! O que pensariam os animais selvagens (se eles raciocinassem, como é óbvio) se tivessem contacto connosco e contacto com a nossa existência. Eu até escolhi o meu personagem favorito: o esquilo Hammy (na figura). Aqui fica uma das suas frases mais repetidas:
Hammy: But I thought I liked the cookie...

quarta-feira, agosto 09, 2006

Heautontimoroumenos

Gosto bastante dos trabalhos do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). Escritor maldito, viu o seu livro "Les Fleurs du Mal", apreendido acusado por ultrajar a moral pública. Este mês faz 139 anos que Baudelaire faleceu. Aqui fica um dos 100 poemas que o livro contém (que infelizmente só possuo taduzido em inglês por Richard Howard).
"No rage, no rancor:
I shall beat you as butchers fell an ox,
as Moses smote the rock in Horeb - I shall make you weep,
and by the waters of affliction my desert will be slaked.
My desire, that hope has made monstrous, will frolic in your tears
as a ship tosses on the ocean -in my besotted heart
your adorable sobs will echo like an ecstatic drum.
For I - am I not a dissonance in the divine accord,
because of the greedy Irony which infiltrates my soul?
I hear it in my voice - that shrillness, that poison in my blood!
I am the sinister glass in which the Fury sees herself!
I am the knife and the wound it deals,
I am the slap and the cheek,
I an the wheel and the broken limbs,
hangman and victim both!
I am the vampire at my own veins,
one of the great lost horde
doomed for the rest of my time,
and beyond, to laugh - and smile no more."

sábado, agosto 05, 2006

Ennio Morricone + Yo-Yo Ma = Harmonia Perfeita

Este é um daqueles discos que, apesar de o já ter adquirido à algum tempo, tenho sempre por perto. Se apreciam a música (de bandas sonoras de filmes) de Ennio Morricone e/ou se gostam do Sr. do Violoncelo Yo-Yo Ma, este é um álbum obrigatório. Yo-Yo Ma executa algumas das mais famosas partituras que Morricone compôs para o cinema, tais como "Cinema Paradiso", "Malena", "Once Upon a Time in America", "The Untouchables" ou "The Legend of 1900". Se forem como eu, que não aprecio transcrições livres, não há problema: esse processo foi efectuado com a ajuda do próprio Morricone (que também dirigiu a Roma Sinfonietta Orchestra na gravação deste álbum), logo, nenhuma música foi adulterada. Um regalo para os sentidos.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Artistas Portugueses: "We Gotta Get Out of This Place"

"Não se pode ser pároco nesta freguesia", lá diz o povo e com muita sabedoria... Que digam os artistas portugueses! As irmãs Maria e Inês de Medeiros (actrizes e realizadoras) estudaram na Universidade de Sorbonne em Paris e por "terras de França" ficaram (e em parte trabalham)... A pintora Paula Rego estudou na Slade School em Londres (Reino Unido) e tem uma "casinha germinada e acolhedora" em "terras de sua majestade"... Manoel de Oliveira, um homem do Porto, "vai-se aguentando por cá", mas cada vez mais os seus filmes são rodados e apreciados no estrangeiro... Agora foi a pianista Maria João Pires que resolveu fazer a trouxa e abandonar o seu país natal... Mas afinal o que andamos nós a fazer aos nossos artistas? Quando será que a nossa visão artística chegará para abranger estes grandes visionários que se sentem tão maltratados no seu próprio país? Quando já não houver artistas aqui?
Passagens de uma carta aberta de Maria João Pires à Antena 2: A pianista afirma que pode continuar a trabalhar no seu Centro para o Estudo das Artes em Belgais mesmo "sem gostar de Portugal". Ela assumiu-se "vitima de uma verdadeira tortura" e resolveu emigrar para o Brasil para se "salvar dos malefícios" que Portugal lhe fizera. Maria João Pires afirmou que o Centro de Belgais não tem patrocinadores privados e que provavelmente nunca terá "num país como Portugal, que se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras nem por projectos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, amizade e camaradagem. Ao inverso Portugal preocupa-se com sensacionalismo, mentira, intriga, conflito e consumismo".
Desculpem a transposição destas palavras de Maria João Pires e este meu desabafo! Quando eu comecei a escrever neste blog tentei nunca tomar partido de ninguém. Jurei que iria apenas descrever algumas situações com a máxima neutralidade e isenção. Só que quando o tema é a cultura... eu defendo o meu ponto de vista com "unhas e dentes". Podem não estar de acordo comigo (e aceitarei as vossas criticas se aqui as quiserem dispor), mas aqui fica a minha reflexão. E já que não me podem matar duas vezes; remato: penso que o melhor é o país fechar para remodelação (com avisos e tudo) e reflectirmos o que andamos a fazer à nossa cultura e aos nossos artistas.