quarta-feira, agosto 02, 2006

Artistas Portugueses: "We Gotta Get Out of This Place"

"Não se pode ser pároco nesta freguesia", lá diz o povo e com muita sabedoria... Que digam os artistas portugueses! As irmãs Maria e Inês de Medeiros (actrizes e realizadoras) estudaram na Universidade de Sorbonne em Paris e por "terras de França" ficaram (e em parte trabalham)... A pintora Paula Rego estudou na Slade School em Londres (Reino Unido) e tem uma "casinha germinada e acolhedora" em "terras de sua majestade"... Manoel de Oliveira, um homem do Porto, "vai-se aguentando por cá", mas cada vez mais os seus filmes são rodados e apreciados no estrangeiro... Agora foi a pianista Maria João Pires que resolveu fazer a trouxa e abandonar o seu país natal... Mas afinal o que andamos nós a fazer aos nossos artistas? Quando será que a nossa visão artística chegará para abranger estes grandes visionários que se sentem tão maltratados no seu próprio país? Quando já não houver artistas aqui?
Passagens de uma carta aberta de Maria João Pires à Antena 2: A pianista afirma que pode continuar a trabalhar no seu Centro para o Estudo das Artes em Belgais mesmo "sem gostar de Portugal". Ela assumiu-se "vitima de uma verdadeira tortura" e resolveu emigrar para o Brasil para se "salvar dos malefícios" que Portugal lhe fizera. Maria João Pires afirmou que o Centro de Belgais não tem patrocinadores privados e que provavelmente nunca terá "num país como Portugal, que se comporta sem algum interesse pelas gerações futuras nem por projectos que incentivem valores morais, solidariedade, educação, amizade e camaradagem. Ao inverso Portugal preocupa-se com sensacionalismo, mentira, intriga, conflito e consumismo".
Desculpem a transposição destas palavras de Maria João Pires e este meu desabafo! Quando eu comecei a escrever neste blog tentei nunca tomar partido de ninguém. Jurei que iria apenas descrever algumas situações com a máxima neutralidade e isenção. Só que quando o tema é a cultura... eu defendo o meu ponto de vista com "unhas e dentes". Podem não estar de acordo comigo (e aceitarei as vossas criticas se aqui as quiserem dispor), mas aqui fica a minha reflexão. E já que não me podem matar duas vezes; remato: penso que o melhor é o país fechar para remodelação (com avisos e tudo) e reflectirmos o que andamos a fazer à nossa cultura e aos nossos artistas.

4 comentários:

Anónimo disse...

O Ministério da Educação concedeu um apoio total de 1,8 milhões de euros ao Centro de Belgais para o Estudo das Artes.
O papel de coitadinha fica-lhe muito mal.

Mr. Lynch disse...

Anonymous;
Eu tomei conhecimento que o MC tem feito tudo para este projecto de Belgais andar, já o ME desconhecia. Eu não defendi a Maria João Pires em particular mas sim todos os nossos artistas. Referi-me mais à senhora por ser o caso mais recente. Reconheço que o dinheiro é importante, mas o respeito também não será?
Obrigado pelo comentário e um abraço.

Anónimo disse...

Mas respeito também não está ela a ter pelas instiuições que a apoiam com o dinheiro de todos nós.

Mr. Lynch disse...

anonymous;
Nós pagamos todos os anos quantias astronómicas para tantos estudantes tirarem cursos que depois nunca chegam a concluir ou nunca chegam a desenvolver na vida profissional. Muita gente parece preocupada com esses 1.8 milhões de euros. Será porque a cultura é a filha bastarda deste país? Penso que parte desse dinheiro deve ser em prol da associação e não para os bolsos da Maria João Pires.

Querida SGC (Clarissa);
Finalmente não estamos de acordo em alguma coisa! ;-) Tal como disse ao anonymous, a Maria João Pires é apenas mais "uma" de tantos artistas. Sabes o que esta situação me faz recordar? Recordaste do filme "Branca de Neve" do João César Monteiro? Na altura foi um escândalo! Um filme quase todo a negro? Hoje, como o senhor já morreu, é uma das suas obras-primas! No entanto, na época da sua exibição, o "Cadiers du Cinema" evocou essa película como "uma lição de cinema". Mas claro, agora já ninguém se recorda nem se importa, pois agora está na "berra" a Maria João Pires... Quem será o(a) senhor(a) que segue?
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